1.
Por um momento me perguntei como seria se por acaso as coisas fossem diferentes. Porque as coisas eram, e muito diferentes, antes o sucesso era sucesso e a perda era perda. As coisas faziam mais sentido e tudo era bem mais fácil de entender.
2.
Mas agora, tudo que acontece deixa de ser ruim ou bom, quando é ruim, é "e o que faço agora?", quando é bom, o mesmo. As coisas simplesmente não precisavam de uma explicação própria, e podia-se levar a vida numa boa simplesmente achando que vivia-se de felicidades ou infelicidades.
3.
A vida é uma montanha russa. Se você sobe, você vai descer, e se você desce, você vai subir, até o momento da queda constante a o desligamento total da máquina pelo maquinista frio e calculista que eu gosto de chamar de deus.
4.
Antes rosas eram rosas, e eu sempre preferia as rosas. Hoje as rosas são azuis, e as tulipas são de um vermelho que não consigo identificar, mas que se parece muito com vinho... Hoje, os dias de sol são mais nublados do que os dias tempestuosos de uma chuva pesada. Hoje, nada é só rosas, nada é só tulipas.
5.
Meu maior medo era acordar e ver que de repente tudo mudou, mas por um lado eu sempre quis isso, amadurecer, ser mais aqueles que nós sempre pudemos admirar por tomar a decisão correta, ou simplesmente por parecerem do jeito que nós queriamos parecer. Hoje eu sou isso, hoje eu tomo a decisão certa, e eu me pareço exatamente como eu queria ser, mas assim como mais um inútil conquista, eu me perco sem sentido me perguntando "e agora?".
6.
Eu não sei.
7.
Me lembro de estar andando pela W3, ao lado da pista, parte norte de brasília, e perceber como tudo mudou, onde antes era sul, agora é norte, onde antes eram rosas, bom... seriam tulipas?
8.
O vinho, ah o vinho, a tulipa cor de vinho e liquido em meu copo, ambos simplesmente não fazem sentido na minha cabeça, seriam algum plando divino para acabar com a minha sanidade? Pode ser que seja aqueda final e finalmente o desligamento dessa máquina cheia de surpresas que tem sido a vida pra mim.
9.
Ajudo a menininha menor a subir, no carro e percebo quão idiota tenho sido por todo esse tempo. Ou por deixar a vida ser tão imprevisível, ou por simplesmente ter ajudado uma pequena a subir naquela máquina tão cruel.
10.
Quando a máquina desligar, ela ja não vai ter mais seus belos cabelos louros, não terá seu pai ao lado, não terá mais o pirulito em sua mão, não vai mais chorar com as impresivibilidades das subidas e descidas. Quando a máquina desligar, e for a vez de outro, ela vai ter cabelos brancos,, vai ser cheia de certezas tão incertas sobre tantas coisas... vai ter uma mão vazia, ou uma menina nas mãos. Quando a música parar, e quando os convidados forem embora, tudo será vazio, como sempre é no fim de tudo.
11.
E no salão restam apenas duas pessoas, Eu e Ela. Eu, pensando que talvez tenha asorte que não pude ter durante a festa, durante o tempo em que todos estavam lá, vivendo. Mas é tarde e a luz se apaga. Procuro teteando por toda a sala, mas ela é enorme. Medo. Medo do escuro, como na hora que eu subi no carro inconstante controlado pelo maquinista cruel.
12.
A vida não é como uma montanha russa. Ninguém é capaz de destruir uma vida assim com tanta crueldade, ninguém e capaz, mesmo aos pedidos de todos, de apagar a luz, enquanto o último casal se encontra no salão.
13.
É isso o que costuma acontecer quando se fica velho, quando você se torna aquilo que você deveria ser. Começa a se encher de incertezas tão certas sobre tantas coisas, como o fato de sua vida se parecer com um filme. Mas não, a vida é uma montanha russa, e o ultimo a cruzar a porta apagou a luz.