sábado, 1 de agosto de 2009

Fim de ano

Passa mais um ano, eu ainda consegui estar vivo, mas não tão vivo assim, já que quase tudo me mata e eu nunca fui muito bom em viver. É noite de domingo, logo após uma festa cansativa de aniversário com todas aquelas coisas ridícular cheias de animação desnecessária e fugar com recheio de desejos de 'muitos anos de vida', como se isso fosse algo bom. A casa está vazia, só tem eu e o meu ego, cansado da festa e do silêncio. O Ego pede pra eu ligar a TV e eu instantaneamente obedeço, não tenho pretensões...
O Jô está conversando com alguma banda de rap, mas isso não faz o menor sentido, e quando eles começam a cantar eu me levanto e olho pela janela. Nada disso presta. Os carros passam três andares mais abaixo, e acima, talvez um avião, quem sabe. À noite não são tão fáceis de ver. O gato me olha com aquela cara de compreensão e eu fico encarando.
- La vida és dura. Citando um trecho de um bom filme.
E o gato mia pra mim, como se dissesse 'eu sei'. Ninguém sabe de nada. Nada disso presta. O sanduíche que eu tinha me disposto a fazer antes da festa estava na mesa ao lado e eu pego um. Horrível. Talvez por isso os convidados tenham saído tão cedo.
Imagino que a meu momento deprê pode estar relacionado com o fato de que a banda de rap definitivamente não fez uma obra admirável e decido mudar de TV. Cinquenta canais de porcaria e eu ainda pago quase cinquenta reais por mês. Nada disso presta. E lá se foi mais um aniversário. Mais um aniversário vazio de sentido, de poesia ou de paciência.
Numa insistência pela minha sanidade mudo de canal mais uma vez. Nada presta. Não sei que canal era, mas a cena se enquadrava perfeitamente com minha casa, e nada disso fazia sentido, quando me aproximei pra olhar melhor, vi um morto, mudando os canais. Ele se apoxima da tela e diz um 'olá' mudo.
Que final triste, ligo a TV em fim de outro ano e vejo a minha morte. Fim? Fim.